Quando nós não temos filho, o que mais escutamos das nossas
amigas que já têm ou até mesmo dos nossos pais é: "Você não tem filho,
você não sabe". E é a mais pura verdade, mesmo que a pessoa tenha uma boa
noção do que é ter filhos, ou porque convive com crianças, ou porque é uma
pessoa de bom senso mesmo, só dá para saber de verdade o que é ter filhos
quando você de fato tem.
E eu como todos os desavisados que saem por aí tomando
conclusões, dando conselhos ou simplesmente pensando e falando coisas absurdas,
cometi várias injustiças com as minhas amigas que viraram mãe antes de mim.
Uma das minhas melhores amigas casou cedo e logo depois
virou mãe assim meio no susto, sem planejar. Era o auge das nossas vidas.
Carreiras deslanchando, gente nova, festas, viagens. E eu simplesmente não
entendia porque pelo menos uma vez por semana ela não podia sair com a gente
como sempre fez. Eu dizia: "Vai, pega uma babá, pede para sua mãe, é só
uma noite". É claro que não me passava pela cabeça que se a minha pobre
amiga, mãe de primeira viagem, que nunca parou de trabalhar, tivesse à
disposição uma babá confiável ou uma mãe solícita, talvez o que ela mais
quisesse não seria sair comigo. Talvez ela desse prioridade para alguma
coisa mais imprenscíndivel para a continuação da vida dela, como por exemplo,
dormir, ou tomar um banho demorado, transar com o marido dela ou simplesmente
não fazer absolutamente nada.
Não me passava pela cabeça que ser mãe de filhos pequenos e
ao mesmo tempo querer ser você é uma proposta bem ambiciosa, caso você não
esteja terceirizando a maternidade. Eu não sabia que para conseguir trabalhar e
ter um bebê em casa minha amiga abdicava de muitas coisas básicas sob o ponto
de vista de quem não tem filhos. E quando eu digo básica, é básica mesmo:
comida, diversão e arte.
Numa outra ocasião, uma outra amiga, que morava na Suécia
com marido e dois filhos pequenos, estava de passagem por São Paulo e me ligou
meio em cima da hora querendo me ver. Ela argumentava torcendo para que eu
concordasse: "Só tenho hoje, sei que tá em cima, mas você pode? Quero
muito te ver, consegui deixar meus filhos assim de última hora com minha
mãe." Ela me pegou saindo do trabalho. Eu estava super cansada. Ia viajar
para Argentina a trabalho no dia seguinte, o vôo era super cedo e eu não tinha
feito a mala. Eu queria muito vê-la também, mas como, se eu não tinha feito a
mala? Mas porque ela não me avisou antes? Ela não podia ter se planejado?
"Desculpe, não posso. Eu nem arrumei a mala e viajo às 5 da manhã
amanhã." , finalizei com pena, mas convicta.
O que eu também não conseguia perceber é que eu poderia ver
minha amiga, varar a noite fazendo a mala, se fosse o caso, e no dia seguinte,
chegar no meu confortável hotel, encarar um dia de trabalho com sono (e/ou
ressaca) e depois dormir. Dormir horas seguidas e interruptas por todas as
noites que eu quisesse, até que o primeiro bebê parasse no meu colo. Eu lembro
da decepção na voz da minha amiga, e eu lembro da minha total falta de
capacidade de entender o porquê.
A verdade é que quando não temos filhos, não temos noção
mesmo. E com essa afirmação não quero massacrar quem não tem filho, que, claro,
não pode saber. Quero apenas, formalmente, pedir desculpas às minhas amigas.
Desculpe, eu não sabia.
Eu não sabia a quantidade de coisas que vocês faziam ao
mesmo tempo, eu não sabia o quanto vocês poderiam planejar tudinho e, por
alguma razão banal, como por exemplo febre, tudo seria cancelado. Eu não sabia
o que era cansaço e vontade de dormir, eu não sabia o que era não ter 5 minutos
de paz, nem para ir no banheiro. Eu não sabia o que era estar em um lugar com o
coração no outro. Eu não sabia que depois que a gente vira mãe, a gente, da
maneira como a gente existia, não existe mais. E que tudo tem que ser
reinventado, inclusive as amizades.
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