Ser Miss é ser assim...

" Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das ideias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes... tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostrem o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração.
Não me façam ser quem eu não sou.
Não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente.
Não sei amar pela metade.
Não sei viver de mentira.
Não sei voar de pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma para sempre."

Clarice Lispector

12.1.12

"Família - prato difícil de se preparar"

Venho de família pequena. Casa pequena, mas sempre cheia de carinho e respeito. Vivenciei desentendimentos, tristezas e amarguras que ainda hoje percebo nos olhos de algumas pessoas, mas nada disso deu muito o que falar, sinto, no fundo que essa minha pequena família me ensinou os princpipios que não faltam, hoje, na minha vida...e que espero transmitir para o MINHA família, que no momento está crescendo e que já conseguimos cultivar em nossa casa:
- respeito acima de tudo - detesto discussões em público, tratar o que é particular de forma coletiva, essa história de meter a colher não é comigo. Vejo coisas que acho "erradas" tenho esse direito, o que não tenho, é de me meter... posso até falar minha opinião, caso a pessoa pergunte, mas aviso que sou sincera! Aviso também....se não te perguntei, não quero saber!!!!
- verdade sempre, mesmo que a voz trema - falando a verdade aprendi que o perdão e o amor podem sempre resolver qualquer problema. Mesmo nos momentos mais difíceis, nunca deixei de falar a verdade. Essa história de mentir no preço do sapato, de esconder uma coisinha, de alterar alguma outra, sempre dá confusão. Me culpo por situações que fiz errado ( algumas vezes ainda quero ser perfeita), mas elas ocorreram, olhei nos olhos e disse, fiz e foi sem pensar, sem intensão... a sinceridade e a verdade me acompanham, agora, não posso fazer vc acreditar, isso já não é comigo!
- uma boa conversa no canto da cama - desde pequena e até hoje, é assim que fui educada, que aprendo e procuro compartilhar, por mais difícil que seja, ouvir, falar e resolver se faz ali, no canto da cama, antes de dormir, com a porta fechada e de preferência com uma oração depois. Não suporto brigas públicas, eu erro, assim como vc, mas não me aponte o dedo, nem me venha com lição de moral e festinhas para os outros. Sou capaz de te ouvir e ao mesmo tempo não compreender nada do que diz, agora, uma boa conversa, faz outro caminho dentro do meu coração....
- honestidade - sempre soube o tamanho de passos que consigo dar sem cair, nunca desejei o que não posso, nunca fiquei noites em claro pensando e apertando o travesseiro, nem fui desonesta com o que sou. Tenho grandes planos, claro, quem não tem? Mas sei do meu trabalho, sei qto tenho e quanto posso, trabalho com dignidade e graças a Deus posso afirmar com muito orgulho que tudo que tenho vem dele e do meu marido e somos honestos aos caminhos que trilhamos, sem explorar ninguém, sem querer mostrar o que não podemos.
Ao ler o texto abaixo, fiquei pensando muito em diversas situações... pensei no qto viver com outras pessoas é mesmo complicado e difícil, ainda mais com familiares, mas como podemos aprender com elas, mudar nossas atitudes e manias, muitas vezes egocêntricas e nos tornarmos pessoas melhorer... não existe família perfeita, mas podemos fazer de nossos momentos, ao lado de pessoas queridas, ser melhor a cada dia, basta cada um adicionar nessa receita o que tem de melhor e evitar ressaltar o que o vizinho tem de diferente...



"Família é prato difícil de preparar"
(de "O Arroz de Palma,de Francisco Azevedo)

Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema, principalmente no Natal e no Ano Novo. Pouco importa a qualidade da panela, fazer uma família exige coragem, devoção e paciência. Não é para qualquer um. Os truques, os segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até vontade de desistir. Preferimos o desconforto do estômago vazio. Vêm a preguiça, a conhecida falta de imaginação sobre o que se vai comer e aquele fastio. Mas a vida, (azeitona verde no palito) sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite. O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares. Súbito, feito milagre, a família está servida. Fulana sai a mais inteligente de todas. Beltrano veio no ponto, é o mais brincalhão e comunicativo, unanimidade. Sicrano, quem diria? Solou, endureceu, murchou antes do tempo. Este é o mais gordo, generoso, farto, abundante. Aquele o que surpreendeu e foi morar longe. Ela, a mais apaixonada. A outra, a mais consistente.
E você? É, você mesmo, que me lê os pensamentos e veio aqui me fazer companhia. Como saiu no álbum de retratos? O mais prático e objetivo? A mais sentimental? A mais prestativa? O que nunca quis nada com o trabalho? Seja quem for, não fique aí reclamando do gênero e do grau comparativo. Reúna essas tantas afinidades e antipatias que fazem parte da sua vida. Não há pressa. Eu espero. Já estão aí? Todas? Ótimo. Agora, ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e tome alguns cuidados. Logo, logo, você também estará cheirando a alho e cebola. Não se envergonhe de chorar. Família é prato que emociona. E a gente chora mesmo. De alegria, de raiva ou de tristeza.
Primeiro cuidado: temperos exóticos alteram o sabor do parentesco. Mas, se misturadas com delicadeza, estas especiarias, que quase sempre vêm da África e do Oriente e nos parecem estranhas ao paladar tornam a família muito mais colorida, interessante e saborosa.
Atenção também com os pesos e as medidas. Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto, é um verdadeiro desastre. Família é prato extremamente sensível. Tudo tem de ser muito bem pesado, muito bem medido. Outra coisa: é preciso ter boa mão, ser profissional. Principalmente na hora que se decide meter a colher. Saber meter a colher é verdadeira arte. Uma grande amiga minha desandou a receita de toda a família, só porque meteu a colher na hora errada.
O pior é que ainda tem gente que acredita na receita da família perfeita. Bobagem. Tudo ilusão. Não existe Família à Oswaldo Aranha; Família à Rossini; Família à Belle Meunière; Família ao Molho Pardo, em que o sangue é fundamental para o preparo da iguaria. Família é afinidade, é “à Moda da Casa”. E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito.
Há famílias doces. Outras, meio amargas. Outras apimentadíssimas. Há também as que não têm gosto de nada, seriam assim um tipo de Família Dieta, que você suporta só para manter a linha. Seja como for, família é prato que deve ser servido sempre quente, quentíssimo. Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir.
Enfim, receita de família não se copia, se inventa. A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo o que sabe no dia a dia. A gente cata um registro ali, de alguém que sabe e conta, e outro aqui, que ficou no pedaço de papel. Muita coisa se perde na lembrança. O que este veterano cozinheiro pode dizer é que, por mais sem graça, por pior que seja o paladar, família é prato que você tem que experimentar e comer. Se puder saborear, saboreie. Não ligue para etiquetas. Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na louça, no alumínio ou no barro. Aproveite ao máximo. Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete.

2 comentários:

Anônimo disse...

Texto perfeito e completo!!! Suas palavras entram nesse comentário também... Adorei!! E amei a foto!!!!
Bjo
Raquel

Maria Helena Mueller - Lelê disse...

Linda Ju!
O texto de Francisco Azevedo eu já conhecia,é lindo! Mas teu post foi sensacional. És minha Amiga de Verdade! Nossa! Estava precisando ouvir isso e saber que não sou nenhuma "idiota" em ser verdadeira, como ouvi ontem. Obrigada e tenho que te dizer: Cada dia te admiro mais, Linda Miss!!!
Bjks de carinho em teu coração!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...